sexta-feira, 8 de junho de 2007

Ônibus 174


Exibição do dia 11 de abril de 2007


Ônibus 174

Por Thiago P. Ribeiro


Mansões e barracos. Carros importados e pés descalços. O chão gelado das marquises e o quarto confortável do doce lar burguês. Miséria e ostentação. Rocinha e Jardim Botânico. Viver e sobreviver. Diversas são as dualidades possíveis e imaginárias ao assistirmos o filme Ônibus 174. Os depoimentos, as imagens, o rancor em algumas falas, o pesar em outras, a trilha sonora, tudo parece nos encaminhar para um conflito entre o marginal e o incluído. Entre nós e aqueles que não são.

Sandro era mais um de nossos meninos de rua. Nosso novo Pixote. Garotos destemidos e sem esperança. Seus caminhos, trilhados pela loucura, marcados por traumas, perseguição e morte remetem a vidas sem rumo, em um país invisível. Exclusão apoiada pela maioria e percebida por poucos.

O diretor José Padilha volta ao episódio para nos revelar que o que vimos era apenas um fragmento da história. Tínhamos uma impressão errônea, nublada pela raiva e cega pela covardia. Os depoimentos colhidos, o levantamento dos dados e a investigação efetuada nos revelam que as raízes do mal plantado naquela tarde carioca estavam profundamente fincadas nas mazelas sociais e econômicas do país.

Bandidos, policiais, seqüestrados e familiares expõem seus pontos de vista sobre o que realmente motivava Sandro e mais uma vez nosso cinema mostra a realidade e nos atinge certeiramente. Somos arremessados ao submundo de nossas vidas. Trechos de existência que tentamos esquecer e renegamos com fervor. As ruas não nos pertencem. As falas soam como distantes idéias de disparidade entre nosso mundo e aqueles relatos.

Somos diferentes. Somos superiores. Somos o juíz e o júri do caso 174. Absolvemos os policiais culpados da morte de Sandro. Queremos vingança. A morte foi merecida. O "suicídio" de Sandro foi a solução encontrada para dizer que damos o poder a polícia. Nosso braço armado está livre para julgar, condenar e matar. Temos a sensação de alívio. A panela não está mais preste a explodir. Será?




Endereço deste artigo: http://www.cinemando.com.br/arquivo/filmes/onibus174.htm
Cinema Documentário Brasileiro:

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