segunda-feira, 1 de março de 2010

Meteorango Kid - O Herói Intergalático

EXIBIÇÃO DO CINECLUBE AZOUGANDA – FFPNM /UPE (25 de fevereiro de 2010)
FILME:
“METEORANGO KID – O HERÓI INTERGALÁTICO”
DIREÇÃO: ANDRÉ LUIZ OLIVEIRA, ORIGEM: BRASIL, ANO: 1969



Meteorango Kid – O Herói Intergalático

Por Aluísio Gomes*


Faça você mesmo. Era o lema de um dos principais movimentos culturais do século XX. Era o ideário dos punks, mas não difere muito do “uma idéia na cabeça, uma câmera na mão” do Cinema Novo. A regra do dia nas artes do século passado foi: qualquer um pode fazer sua arte, do seu jeito, não há regra.

Certamente não há regra que se aplique a um filme como Meteorango Kid, de André Luiz Oliveira. Nós, os críticos, costumamos classificá-lo como Cinema Marginal, mas esse filme de 1969 é mais que isso. Ele é marginal, é tropicalista, é punk, é cinema novo até quando critica o cinema novo. O filme conta a história de Lula, um “vagabundo” como define bem a empregada doméstica que acorda ele todas as manhãs. Através do personagem, o diretor pinta um retrato da classe média alta baiana dos 1960. Lula deixa claro o desprezo tanto pela família conservadora cristã quanto pelos colegas universitários do movimento estudantil.

André Luiz Oliveira pinta esse retrato de Salvador e da sua sociedade não como uma paisagem, e sim como um caleidoscópio. Em certos momentos tem-se a impressão de que o diretor tem muito o que falar, mas pouco tempo (ou dinheiro) para desenvolver as idéias. O filme pula sem cerimônia dos sonhos de Lula para a realidade, de uma viagem de maconha para um enterro. Como os tropicalistas (Ou Andy Warhol) utiliza-se daquilo que os eruditos consideram “lixo” para construir seu filme. Ao longo da obra temos referências a ícones culturais como Tarzan e Batman. Sempre sob o olhar cínico de Lula que não deixa o espectador saber muito bem se os pastiches são homenagens, gozação ou um pouco dos dois.

O personagem, interpretado por Antônio Luiz Martins, é um capítulo a parte. Uma espécie de Macunaíma marginal. É agressivo, misógino, feio e de cabelo desgrenhado. Completamente amoral. Mesmo assim, é impossível não gostar dele. No momento que o “Jesus Cristo” sob de volta ao coqueiro, e a câmera parte rumo a estrada, já se sabe que você vai lembrar-se de Lula, o anti-herói, para sempre.

*Jornalista e Coordenador do Cineclube AZouganda.


Cinema Marginal Revisitado: http://www.heco.com.br/marginal/01.php

Cinema Marginal x Cinema Novo: http://mnemocine.art.br/index.php?option=com_content&view=article&id=55:pai-contra-filho-e-vice-versa-cinema-novo-x-cinema-marginal-diversidade-e-divergencia&catid=35:histcinema&Itemid=67

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