Por Ricardo Marques
Edição: Amanda Ramos
Taxi Driver é uma daquelas obras essenciais. É já hoje um daqueles filmes seminais, repleto de imagens que se celebrizaram, fazendo já parte da cultura popular ocidental. Travis Bickle (Robert De Niro num dos seus melhores desempenhos) é um indivíduo perdido num mundo só seu, caminhando de obsessão em obsessão, em tentativas constantes para ter algum reconhecimento numa sociedade que o aliena. Uma espiral que se arrasta, adivinhando a ruptura que resulta num banho de violência e, na ironia suprema, de uma redenção final e sua heroificação.
Claramente inspirado na tradição do film noir, Taxi Driver é um filme dos anos 70 que, dificilmente, poderia ter sido feito noutra altura. Visualmente é perturbador, surrealista, intenso e tremendamente desafiante para o espectador. De certa forma, tudo no filme é noite, como que não havendo distinção entre noite e dia ou mesmo passagem do tempo. Para Travis tudo é noite e degradação, mesmo os momentos que ocorrem durante o dia acabam por ser episódicos.
Considerando o contexto em que foi produzido, é, antes de mais, um filme que se assume como de rompimento com a estética da clássica Hollywood. A geração de Scorsese apostava sobretudo em destacar-se da corrente, em deixar a sua assinatura na tela. A juntar a isso, viviam-se tempos de grande conflituosidade social. Conflitos sociais, crime e mesmo o assassinato de figuras políticas eram marcas desse clima de contestação.
Datado que esteja Taxi Driver visualmente, a verdade é que continua a ser um filme actual, mantendo um intenso diálogo com a actualidade. Mostrando talvez uma New York que já não existe, continua a mostrar uma América bem viva e actual. A violência genética que marca a vida americana está lá. O fetichismo surrealista e doentio em relação às armas também, reforçado pelo cameo (também casual) de Scorsese no táxi. Mostra-nos também uma violência urbana, psicológica, que nos toca pela imensa solidão que a reforça. Travis é tão ambivalente, misturando aspectos tão familiares e estranhos, que somos tentados pelo que representa. De certa forma, todos somos, por vezes, um Travis Bickle. Taxi dá-nos uma imagem de quotidiano que perturba, acabando por transmitir um forte sentimento de "rua", algo que poucos filmes conseguem transmitir, marca indelével do cinema de Scorsese. A rua é de facto assim: dura e ambígua. Ao misturar esse realismo puro com uma certa natureza fantástica acaba por ser um comentário sobre nós, sobre o sentimento humano e a forma como é moldado pela sociedade. Ao fim e ao cabo, a mesma sociedade que afasta pessoas como Travis, é aquela que, no final, o absolve e o eleva ao estatuto de herói redentor. A degradação moral da cidade americana será talvez a degradação moral do ocidente. Concorde-se ou não com o que Taxi nos apresenta, facto é que tudo no filme respira arte.
É um filme a ver ou a recordar, não só pelo que simboliza visualmente, mas também pela influência enorme que deixou em vários segmentos da cultura popular ou mesmo no trabalho de vários realizadores que se seguiram.
Retirado de: http://portalcinema.blogspot.com/2008/01/apresentao-critica-taxi-driver-1976-de.html
Taxi Driver é uma daquelas obras essenciais. É já hoje um daqueles filmes seminais, repleto de imagens que se celebrizaram, fazendo já parte da cultura popular ocidental. Travis Bickle (Robert De Niro num dos seus melhores desempenhos) é um indivíduo perdido num mundo só seu, caminhando de obsessão em obsessão, em tentativas constantes para ter algum reconhecimento numa sociedade que o aliena. Uma espiral que se arrasta, adivinhando a ruptura que resulta num banho de violência e, na ironia suprema, de uma redenção final e sua heroificação.
Claramente inspirado na tradição do film noir, Taxi Driver é um filme dos anos 70 que, dificilmente, poderia ter sido feito noutra altura. Visualmente é perturbador, surrealista, intenso e tremendamente desafiante para o espectador. De certa forma, tudo no filme é noite, como que não havendo distinção entre noite e dia ou mesmo passagem do tempo. Para Travis tudo é noite e degradação, mesmo os momentos que ocorrem durante o dia acabam por ser episódicos.
Considerando o contexto em que foi produzido, é, antes de mais, um filme que se assume como de rompimento com a estética da clássica Hollywood. A geração de Scorsese apostava sobretudo em destacar-se da corrente, em deixar a sua assinatura na tela. A juntar a isso, viviam-se tempos de grande conflituosidade social. Conflitos sociais, crime e mesmo o assassinato de figuras políticas eram marcas desse clima de contestação.
Datado que esteja Taxi Driver visualmente, a verdade é que continua a ser um filme actual, mantendo um intenso diálogo com a actualidade. Mostrando talvez uma New York que já não existe, continua a mostrar uma América bem viva e actual. A violência genética que marca a vida americana está lá. O fetichismo surrealista e doentio em relação às armas também, reforçado pelo cameo (também casual) de Scorsese no táxi. Mostra-nos também uma violência urbana, psicológica, que nos toca pela imensa solidão que a reforça. Travis é tão ambivalente, misturando aspectos tão familiares e estranhos, que somos tentados pelo que representa. De certa forma, todos somos, por vezes, um Travis Bickle. Taxi dá-nos uma imagem de quotidiano que perturba, acabando por transmitir um forte sentimento de "rua", algo que poucos filmes conseguem transmitir, marca indelével do cinema de Scorsese. A rua é de facto assim: dura e ambígua. Ao misturar esse realismo puro com uma certa natureza fantástica acaba por ser um comentário sobre nós, sobre o sentimento humano e a forma como é moldado pela sociedade. Ao fim e ao cabo, a mesma sociedade que afasta pessoas como Travis, é aquela que, no final, o absolve e o eleva ao estatuto de herói redentor. A degradação moral da cidade americana será talvez a degradação moral do ocidente. Concorde-se ou não com o que Taxi nos apresenta, facto é que tudo no filme respira arte.
É um filme a ver ou a recordar, não só pelo que simboliza visualmente, mas também pela influência enorme que deixou em vários segmentos da cultura popular ou mesmo no trabalho de vários realizadores que se seguiram.
Retirado de: http://portalcinema.blogspot.com/2008/01/apresentao-critica-taxi-driver-1976-de.html
Saiba Mais:
Martin Scorsese: http://pt.wikipedia.org/wiki/Martin_Scorsese
Filme Noir: http://www.scoretrack.net/filmnoir.html
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