domingo, 28 de janeiro de 2007

AMAZÔNIA

Se você está acompanhando o zoofilismo chapado de Baygon da desalmada Delzuite na "Amazônia" de Glória Perez, alugue o dvd "Fitzcarraldo - o preço de um sonho", filme do diretor alemão Werner Herzog.

terça-feira, 23 de janeiro de 2007

JÁ QUE ESTAMOS FALANDO DE CINEMA, UM TRECH0 DE LITERATURA

"O sertanejo é, antes de tudo, um forte. Não tem o raquitismo exaustivo dos mestiços do litoral. A sua aparência, entretanto, no primeiro lance de vista, revela o contrário(...). É desgracioso, desengonçado, torto. Hércules-Quasimodo (...) é o homem permanentemente fatigado (...) Entretanto, toda essa aparência de cansaço ilude (...) No revés o homem transfigura-se . (...) e da figura vulgar do tabaréu canhestro reponta, inesperadamente, o aspecto dominador de um titã acobreado e potente, num desdobramento surpreendente de força e agilidade extraordinárias." Trecho do livro "Os Sertões".

AZOUGANDA 2007

Queria algum impacto, nem que por espanto, qualquer menção de movimento, em relação à arte, discussão acadêmica, Cineclube AZouganda. Difícil, não tô inovando em nada, conto a mesma história de um ano atrás, "GENTE QUE GOSTA DE ARTE PROCURA GENTE QUE GOSTA DE ARTE", esse é o anúncio. Me parece que pior que oferecer merda é oferecer arte, ninguém tá querendo. Ou pior que merda e arte é o comprometimento? Ninguém se compromete, ponto.E assim mais um espaço interessante, necessário, único em muitos aspectos, morre daqui a algum tempo, pela falta de gente que gosta de arte e pelo cansaço de uma velha coordenação. O velório só não será ainda nesse semestre, ainda nos arrastamos, somos alguns, precisamos ser mais, ser outros, ainda GENTE QUE GOSTA DE ARTE PROCURA GENTE QUE GOSTA DE ARTE. Participe da nossa coordenação no inicio das aulas!


Ana Maria, coordenação do AZouganda, janeiro de 2007.

segunda-feira, 22 de janeiro de 2007

CINEMA NÃO É COISA PRA POBRE

Não consigo ver uma evolução no cinema. Desde os primeiros atos nos primeiros anos do XX até hoje. O teatro, a mágica e o erro estão em Dogville. Não vejo evolução. O cinema sempre esteve hasteado num poste de mil caixas de som, alguns mais potentes que outros em determinadas estações do ano. MV Bill, repórter por uma noite do Fantástico, exibiu um catálogo de velharias, um museu de verdades futuristas para um público esquizofrênico e futurista. Hoje vejo que o Falcão é uma obra que se iniciou, abriu a capa naquela noite de domingo. Representou um preâmbulo para a narrativa aberta, sádica, bíblica, dos apóstolos do PCC. É a lei natural do negócio, o cinema não é coisa pra pobre, mas o pobre é quem dá conta da verdadeira superprodução explosiva, do documentário, da guerra de trincheira, do road movie, da comédia sob nova direção, da textura repulsiva e sensual dos negros suados, plúmbeos. E os pobres, como roteirizou o PCC, ainda acham que é possível a missão terrena, a missão divina e tentam uma, duas, três, quantas vezes for necessária a tentativa, nem sempre com sucesso de público. Mas não é isso o que importa. Eles curtem outro circuito. Curto-circuito. Longo.
Esses conceitos merdas de pós-modernidade ou modernidade e os seus naturais olhos de onde brotam outras formas disso, outras maneiras maneiras de dizer a mesma coisa, esses conceitos não passam de produtos de Sex Shop para um público que hiberna fazendo sexo ou faz sexo hibernando e depois limpa o esperma do buraco do umbigo. Que se vê louco ainda afirmando que cinema não é pra pobre e que, ao mesmo tempo, como sectários executivos desse mau sistema social, encontram outros termos, outros Códigos para, na liquefação das coisas, reservar o mapa da alquimia, ou simplesmente inventar a existência dum livro secreto da Alquimia.
Cinema não é coisa pra pobre, então prefeituras, ONGs, ONGueiras, deixem de fazer cinema na praça, curso de cinema na periferia! Isso é esquizofrenia futurista. Globo com a Sessão da Tarde, e tudo o que existe no cinema. Então, é o fim do cinema. O cinema, como tudo nesse sistema político-social, só acontece por causa dos pobres. Mas os pobres não têm consciência disso, aí consomem filmes que são o subproduto dessa arte, filmes que bestializam e distorcem (para o mal, para a venda da marca) a percepção da realidade. Não consciência. Lisbela e o Prisioneiro, O Código da Vinci. Filmes cínicos que ainda dizem que o pobre é isso mesmo e que tudo está no seu devido lugar e que tudo é engraçado e tudo se torna piada de roteiro:
Michelle está na parada de ônibus. Ela espera o lotação que a levará de volta pro Morro da Santa. Foi o seu primeiro dia no curso de cinema. Ela fez o pedido de bolsa integral e conseguiu. Viu uma reportagem no Fantástico e decidiu fazer o curso. Michelle aperta o queixo, a imagem do seu rosto e do seu queixo. A sua voz em off diz:
- Eisenstein, Einstein, dá uma dor no maxilar...
Ouvi a frase-título da boca bem articulada dum homem culto, italiano acho, representante do sistema Dolby no Brasil, que ministrou um debate promovido pelo Cine-PE aqui em Recife, esta última edição. Ele está certo. Não consigo ver uma evolução no cinema. Ele está certo. Não vejo evolução.

Artur Rogério, coordenação do AZ, 26 de maio de 2006.

WIN WENDERS, RAFA DA RABECA, MARCELO PINHEIRO, SIBA VELOSO, CAETANO VELOSO, DAVID BYRNE

Na última sexta-feira, 19 de maio, Rafa da Rabeca tocou na casa, como um vendedor de bíblia ou como um assaltante, um grupo de coqueiros plantado na caqueira da casa. O coco posto em pé pra quem tem olhos e ouvidos, sede. Rabeca, para nós, estudantes da FFPNM-UPE, é o cordão umbilical, o cupido de asas de madeira; nos beija na boca e nos tranqüiliza diante da responsabilidade para com os seres do mar, os negros na África.
Tenho escrito um projeto que é o Prêmio Vampírico. Fala-se que divisão de classes é conceito ultrapassado, que a pós-modernidade superou o livro marxista. E o que tanto fazem os nomes citados no título deste texto? É ação necessária num mundo onde há sim divisão de classes, tira de uma, põe na outra. Neste caso, sou marxista. O que eles fazem é negócio feito pescador de caranguejo. Tira da merda, mostra pra riba, tira da vida, joga na morte, tira da morte, tira da vida. Tem gente que precisa, de forma vital, tomar água de canudinho tal qual o único personagem inteligente dos filmes Jogos Mortais I, Jogos Mortais II. Isso também tem a ver com o gasoduto da parceria Petrobrás-Bolívia que recentemente foi motivo de um debate(?)-conflito(?) cuja natureza é quasar. Não sei se para o ser humano, como a água, nós precisamos estar captando/capitaneando almas, cultura, estética, vidas de planos baixos. Isso tem a ver com a coisa da Antropofagia dos paulistas lá que caminha com Caetano, baiano, cantando Nirvana baiano. Não sei se este ser antropófago come e cospe ou come e grita idealista, ou simplesmente ri tranqüilo e satisfeito. Assim, de maneira geral, não sei. Sei que a academia, as universidades, talvez depois do Duchamp e a sua roda, faz uso do kitch, e ainda vende o kitch, porque essa é a lógica natural do kitch, como o novíssimo, o vanguardístico, o Demolidor. O conceito antropofágico também é produto, assim como é produto caro Chico Buarque, Marisa Monte e Taty Quebrabarraco. O Prêmio Vampírico é pra que a gente festeje esse fato. Antropofagia como pré-requisito para as cadeiras de todos os cursos de todas as faculdades mentais. Os gênios da academia são uns bostas que se formam com títulos geniais e não sabem qual é a diferença entre uma cadeira e uma mesa. Sugam a beleza e a inteligência do marginal da mesma forma que comem (ou dão a bunda) as Jannaynnas e Myxchelless, putas de Boa Viagem, e criam personagens de teatro ruim. É um antídoto para neutralizar o veneno. Tira a célula comunista, o veneno, processa a matéria prima e vende analgésicos. O câncer não tem cura. O câncer atinge qualquer um, use fardão ou não. A metáfora, que é o primeiro antepassado do homem, nos ensina que nem tudo é o que é. E isso é a verdadeira Chave Mestra.
É o que fizeram aqueles nomes do título, aquele nome dos títulos. É a beleza do que fizeram os título. Eles são o câncer, a metáfora. Win Wenders fez um documentário, Buena Vista Social Club, que levou, de Cuba aos EUA, os deuses da música. Rabeca bateu apressado na porta dos deuses de Nazaré da Mata e pôs o coco de Nazaré da Mata para bater pra eles. Marcelo Pinheiro, talvez inspirado pelo próprio Wenders, e Siba Veloso puseram os cantores de Nazaré da Mata na França. Caetano Veloso colocou Odair José no menu dos deuses. David Byrne reproduziu uma imagem do Santo Tom Zé e propagou a doutrina tomzelista por aí pelo mundo. Ou foi o contrário.
A conclusão para mim não existe. Fica, então, a história do câncer como conclusão disso tudo. Pra mim, pra quem tá lendo, não. Fica Um Inimigo do Povo. Fica o fato.


Artur Rogério, coordenação do AZ, 24 de maio de 2006.

A ESTRÉIA

A difícil estréia do Cineclube AZouganda foi com Má Educação do cineasta espanhol Pedro Almodóvar. Quando o projeto do cine já sabia andar e falar, ele foi batizado. É difícil e lindo trabalhar na vanguarda. Foi lindo e fácil estrear o AZ em Nazaré da Mata.
Tentamos fazer uma pré-estréia como uma exibição-piloto, já que o projeto ainda não havia sido aprovado. O filme não passou completo, paramos no meio, enfrentamos chuva forte, vento, a tela branca de projeção quase se desarmou em alguns momentos, o data-show teve que ser agasalhado. A Universidade de Pernambuco entrava em greve. Neste dia, na FFPNM (Faculdade de Formação de Professores de Nazaré da Mata) havia no lado de lá, no pátio do Espaço Paulo Freire, uma balbúrdia que se ouvia do lado de cá, do abrigo da antiga cantina onde arrumamos o equipamento todo para projeção. Entre um gemido e outro de Gael, gritos, aplausos, vozes irritadas que pareciam ranger de uma maneira insuportável sendo amplificadas por um caixa de som péssimo. Uma verdadeira revolução debaixo de chuva e uma greve histórica no dia da nossa estréia. O flerte não aconteceu com Almodóvar.
Reapresentamos Má Educação para uma audiência que definitivamente não estava preparada para ver as cenas que viu (ou não viu). Esta foi a nossa estréia “oficial”. Não choveu, o filme passou completo, a “greve” já havia acabado. Mulheres que cursam Pedagogia eram a maioria dos espectadores. Nos momentos de cenas “mais ousadas”, naturalmente as de sexo homossexual, quase todas senhoras desviaram os olhos do filme. Ouvi algumas dizendo que aquilo era uma pouca vergonha, que aquilo não era cinema. Uma senhora se retirou xingando aquela putaria e, com muita cautela, só voltou depois de uma meia hora. Vi uma mãe agarrada à filhinha que devia ter sete, oito anos, de maneira que a menina ficasse de costas para as imagens. Nos créditos finais, os aplausos soaram confusos, letárgicos talvez. Existe, então, um evento ousado, uma estréia delicada ou absurdamente provocante. A coisa não aconteceu, de todo, de caso pensado. Penso, agora, num notável desapontamento de boa parte do público, numa atitude anárquica de eletrochoque tomada pela coordenação do AZ, numa ingenuidade romântica de alguém, numa jovem que ria muito e, por isso, me fez ver a óbvia comédia de Almodóvar, em descrédito, em revolução.

Depois dessas estréias, pude confirmar alguns sotaques que me povoavam e, de cara, pareciam absurdas desideologizações ou burrice mesmo. Carregava indecisões e mudez diante desta arte nova, apesar de toda a luta verdadeira para a aprovação do projeto do AZ. As estréias me revelaram os filmes. Hoje sei que cineclube não é cineclube. Hoje sei que cineclube não é cinema.

Artur Rogério, coordenação do AZ, estudante de História da FFPNM - UPE.