segunda-feira, 22 de janeiro de 2007

CINEMA NÃO É COISA PRA POBRE

Não consigo ver uma evolução no cinema. Desde os primeiros atos nos primeiros anos do XX até hoje. O teatro, a mágica e o erro estão em Dogville. Não vejo evolução. O cinema sempre esteve hasteado num poste de mil caixas de som, alguns mais potentes que outros em determinadas estações do ano. MV Bill, repórter por uma noite do Fantástico, exibiu um catálogo de velharias, um museu de verdades futuristas para um público esquizofrênico e futurista. Hoje vejo que o Falcão é uma obra que se iniciou, abriu a capa naquela noite de domingo. Representou um preâmbulo para a narrativa aberta, sádica, bíblica, dos apóstolos do PCC. É a lei natural do negócio, o cinema não é coisa pra pobre, mas o pobre é quem dá conta da verdadeira superprodução explosiva, do documentário, da guerra de trincheira, do road movie, da comédia sob nova direção, da textura repulsiva e sensual dos negros suados, plúmbeos. E os pobres, como roteirizou o PCC, ainda acham que é possível a missão terrena, a missão divina e tentam uma, duas, três, quantas vezes for necessária a tentativa, nem sempre com sucesso de público. Mas não é isso o que importa. Eles curtem outro circuito. Curto-circuito. Longo.
Esses conceitos merdas de pós-modernidade ou modernidade e os seus naturais olhos de onde brotam outras formas disso, outras maneiras maneiras de dizer a mesma coisa, esses conceitos não passam de produtos de Sex Shop para um público que hiberna fazendo sexo ou faz sexo hibernando e depois limpa o esperma do buraco do umbigo. Que se vê louco ainda afirmando que cinema não é pra pobre e que, ao mesmo tempo, como sectários executivos desse mau sistema social, encontram outros termos, outros Códigos para, na liquefação das coisas, reservar o mapa da alquimia, ou simplesmente inventar a existência dum livro secreto da Alquimia.
Cinema não é coisa pra pobre, então prefeituras, ONGs, ONGueiras, deixem de fazer cinema na praça, curso de cinema na periferia! Isso é esquizofrenia futurista. Globo com a Sessão da Tarde, e tudo o que existe no cinema. Então, é o fim do cinema. O cinema, como tudo nesse sistema político-social, só acontece por causa dos pobres. Mas os pobres não têm consciência disso, aí consomem filmes que são o subproduto dessa arte, filmes que bestializam e distorcem (para o mal, para a venda da marca) a percepção da realidade. Não consciência. Lisbela e o Prisioneiro, O Código da Vinci. Filmes cínicos que ainda dizem que o pobre é isso mesmo e que tudo está no seu devido lugar e que tudo é engraçado e tudo se torna piada de roteiro:
Michelle está na parada de ônibus. Ela espera o lotação que a levará de volta pro Morro da Santa. Foi o seu primeiro dia no curso de cinema. Ela fez o pedido de bolsa integral e conseguiu. Viu uma reportagem no Fantástico e decidiu fazer o curso. Michelle aperta o queixo, a imagem do seu rosto e do seu queixo. A sua voz em off diz:
- Eisenstein, Einstein, dá uma dor no maxilar...
Ouvi a frase-título da boca bem articulada dum homem culto, italiano acho, representante do sistema Dolby no Brasil, que ministrou um debate promovido pelo Cine-PE aqui em Recife, esta última edição. Ele está certo. Não consigo ver uma evolução no cinema. Ele está certo. Não vejo evolução.

Artur Rogério, coordenação do AZ, 26 de maio de 2006.

2 comentários:

Aninha disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Aninha disse...

O queixo de Michelle caiu. No cinema é tudo escuro.