sábado, 4 de abril de 2009

Em Paris

EM PARIS

Por Geo Euzebio


Pode parecer incoerente de minha parte dizer isso aqui, mas, assistir Em Paris sem nenhuma informação sobre a trama me trouxe a grata surpresa de gostar de um filme do qual eu não sabia o que esperar. Sutilmente, inclusive, só se pode estabelecer uma opinião sobre ele quando os créditos sobem, já que durante o desenrolar da trama se pode tentar prever várias soluções que resolveriam as questões propostas ao longo da uma hora e meia de filme. Não que ele fuja completamente de alguns clichês. Digamos que de forma elegante ele nos mostre novas formas de utilizá-los.

E isso foi o que mais me chamou a atenção, por isso chamei de elegante a maneira como o roteiro e a direção encontraram novas formas de escapar de obviedades que facilmente encontramos em filmes recentes. É muito comum se ouvir como resposta a esse tipo de crítica que a culpa vem do esgotamento de possibilidades diante da enorme quantidade de filmes produzidos ao longo da história do cinema. E falando ainda sobre o cinema francês – que sabemos, produziu alguns ótimos cineastas e mesmo escolas cinematográficas já repetidamente citadas e reproduzidas -, Christophe Honoré teria liberdade para apoiar-se nessa desculpa do esgotamento e preguiçosamente se deixar levar pelo mais fácil.

Mas é aí que ele nos presenteia com uma história que, apesar de parecer não querer para si o título de clássico ou o adjetivo de genial, tampouco pode ser taxada de comum: Logo no início, Jonathan (Louis Garrel) encontra um lugar reservado no apartamento de seu pai (Guy Marchand) para falar ao espectador sobre a história que veremos a seguir, e lá da varanda vai ligando o passado e o presente àquele futuro em que ele se encontra. Essa solução que eu chamaria de desmistificação da ficção (e sobre a qual deve existir um termo técnico, que desconheço agora), quando é criado um interlocutor que dialoga, digamos, francamente com o espectador tornando óbvio o caráter fictício daquilo que estamos prestes a assistir.

Logo em seguida somos apresentados à conturbada relação que levará Paul (Romain Duris) ao estado em que o encontraremos no futuro, em que ele voltou a dividir a vida com seu pai e seu irmão Jonathan. Após essa apresentação, outros pequenos truques legais: numa floresta não-verdejante o casal caminha numa espécie de passos marcados, onde somem atrás de uma árvore para reaparecer em frente à câmera, conversando sobre como se sentem diante daquele amor que parece – naquele momento – estar em seu começo, para logo depois o vermos fechados em um carro, numa floresta que pode ser a mesma, travando uma conversa silenciosa de gestos que denotam o desgaste daquela mesma relação, sempre exagerando no melodrama.

Abrindo um parêntese, não deixem de notar a cena em que Jonathan pára em frente a um cinema e o vemos em meio a dois cartazes: um é de Marcas da Violência (que na França foi distribuído através da mesma distribuidora de Em Paris) e o outro é de Last Days, filme de Gus Van Sant e cujo protagonista, Michael Pitt, foi companheiro de cena de Garrel no filme que o apresentou ao mundo, Os Sonhadores. Enfim, o cinema como auto-referência de si mesmo.

As cenas finais também guardam algum lirismo: naquela intimidade de irmãos que sempre dividiram tudo, Jonathan conta a Paul como foi seu dia cujos pensamentos e ações estavam voltados em honra dele e pede, como em retribuição, que Paul leia de novo a historinha de Tom e Loulou, o coelho e o lobo que eram amigos e ensinaram um ao outro o medo-do-coelho e o medo-do-lobo, e assistindo ao filme vocês entenderão melhor. Daí a história segue para seu começo, que também é o fim e que também é o início, assim, circularmente...


Adaptado do: http://www.cineplayers.com/critica.php?id=1268


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