sexta-feira, 2 de outubro de 2009

The Wall

Por Jimii


O Pink Floyd acabou em 1982, como sabe todo mundo que ama o rock. Depois do álbum Final Cut, o líder Roger Waters abandonou de maneira tempestuosa a banda, que conseguiu, na justiça, o direito de continuar existindo com o mesmo nome. Mas perdeu a essência que lhe dava a personalidade paranóica e egocêntrica de Waters, um sobrevivente dos anos 60, que já vira ser levado para as trevas da loucura um outro fundador da banda, o seu amigo, Syd Barrett. Onde a amargura de Waters se manifestou de maneira mais brilhante foi no álbum duplo The Wall, um disco conceitual, cujas canções giram em torno da história de um rockstar que entrou em um beco sem saída existencial.

Este personagem, na realidade, era o próprio Waters, que chora toda a tristeza de não ter conhecido o pai, morto na guerra e a fascistização da política inglesa com Tatcher. Aliado a isto, há a influência do punk, que levou a banda a sujar um pouco seu som, tão “sinfônico” nos álbuns anteriores. Resultou em uma obra forte, densa, destinada a marcar para sempre a cena pop. Toda a estética de The Wall desembocava, naturalmente, na possibilidade de ser explorada cinematograficamente. Convidaram Alan Parker para dirigir o projeto. O próprio Waters escreveu o roteiro e queria atuar no papel principal. Porém, como ele era muito feio para estrelar qualquer coisa no cinema, chamaram Bob Geldof, na época ainda desconhecido do público.

Alan Parker é um mestre das imagens, e assim, sua associação com o disco do Pink Floyd só poderia resultar em um de seus melhores filmes. Parker declarou certa vez que detestou ter feito The Wall em função da quantidade de problemas que teve que enfrentar para realizá-lo. Grande parte deles, com certeza, deve ter sido por causa do relacionamento com Roger Waters, pessoa de temperamento difícil, que chegou a declarar não gostar do filme. “Provavelmente porque não é um filme dele”, respondeu Parker em entrevista posterior.

Mas o filme, em si, era de realização difícil, porque diferente de tudo o que fora feito até então. Não se sabe se é um musical, um drama ou um grande vídeoclip. O clima é totalmente sem alegria. Mistura desenhos animados e cenas surrealistas. A história do é um grande mergulho na miséria pessoal do personagem. Um processo de degradação. Quem busca motivos para sonhar e sorrir deve passar longe deste filme, incrivelmente pessimista.

Antes de um show, o cantor Pink está sozinho em seu apartamento, catatônico. Uma faxineira tenta abrir a porta para fazer a limpeza. De repente, na batida poderosa de Nick Mason – um dos melhores bateristas de rock de todos os tempos – em In The Flesh, passa-se para uma rebelião de estudantes, com coquetéis molotov voando e explodindo viaturas policiais. A polícia chegando e descendo o cacete em todo mundo.

A seqüência de cenas segue a temática do álbum. Na canção “Mother”, por exemplo, vemos como a influencia de uma mãe superprotetora afeta negativamente o desenvolvimento emocional do menino. Já adulto, ele negligencia de tal forma a esposa que ela não vê outra saída a não ser traí-lo, o que acaba por agravar ainda mais seu estado mental. Na famosíssima “Another Brick In The Wall” Parker/ Waters faz uma crítica feroz ao sistema educacional inglês, ao mostrar estudantes caindo dentro de uma máquina de moer carne.

Pink quer morrer, mas ele é “salvo” do suicídio por seu empresário, pois precisa fazer um show, e há uma platéia o esperando. O poder que ele tem perante o público o deixa enlouquecido e ele se torna um líder fascista, mandando massacrar tudo o que fosse diferente, negros, judeus comunistas, homossexuais. Tudo na batida ensurdecedora de “Run Like Hell”. Há uma crítica evidente à intolerância da sociedade inglesa, simbolizada pelo despedaçamento da bandeira inglesa, sendo que a única coisa que sobra da Union Jack é uma cruz vermelha sangrando.

No final, o personagem, já totalmente destruído, pretende abandonar este papel e voltar a ser ele mesmo. Quer saber se o que aconteceu consigo foi por culpa dos outros ou de si próprio. Segue-se um julgamento, todo realizado em animação, onde ele é acusado de querer mostrar “sentimentos humanos”. As pessoas que passaram por sua vida aparecem, todas, para acusá-lo, exceto, é claro, sua mãe. Por fim, ele acaba condenado a ter o muro que o envolvia derrubado, para ficar exposto perante seus pares.

Não há um final feliz. O que se vê é apenas um dia claro e crianças pobres brincando em meio ao entulho. The Wall é um filme sem esperança. Não há saída para os sonhos humanos. Na verdade, ele é uma crítica ao capitalismo monopolista que sucedeu, no início do século XX, o capitalismo concorrencial, fenômeno já previsto por Marx e desenvolvido pela Escola de Frankfurt. O advento do nazifascismo não foi algo isolado, mas a chegada ao poder de uma mentalidade que está aí, não foi derrotada como nos disseram os filmes de Hollywood. Para um tempo em que qualquer ética que respeite o ser humano perde seu sentido, só resta o desespero e a violência.


Fonte: http://recantodasletras.uol.com.br/resenhasdefilmes/



Saiba mais:


Filmes: Pink Floyd:
http://arapongasrockmotor.blogspot.com/search/label/Filmes%3A%20Pink%20Floyd

Outra visão:
http://www.ufscar.br/rua/site/?p=1011


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