segunda-feira, 1 de junho de 2009

Tiros em Columbine

Tiros em Columbine

Por Marcelo Ikeda


Sim, é possível tecer uma gama de argumentos contra Tiros em Columbine: sobre o estilo pop e superficial de Michael Moore, seu estilo pouco cinema de documentário para TV, seu enfoque várias vezes sensacionalista, etc, etc, etc. Mas antes de todo esse repertório de argumentos formalistas, é preciso que se diga que Tiros em Columbine é um filme corajoso, que deve ser visto e que atinge em cheio o público.

O polemista Michael Moore faz um filme de entrevistas, mas também com muita voz-off que acaba tecendo um componente ideológico claramente identificável. É fácil perceber as teses que Moore quer derrubar, que ele é contra, e isso corretamente pode ser visto contra uma técnica do documentarista de entender a realidade quase como um sociólogo, vendo os dois lados e mantendo uma certa neutralidade, deixando o lado criticado se defender.

Mas é inegável a eficiência com que Moore apresenta seu filme. Primeiro, com uma montagem fascinante. Segundo, com uma linguagem bem-humorada (algumas vezes nos faz lembrar até de Ilha das Flores) e com um ritmo que torna seu documentário extremamente atraente para o público em geral. É surpreendente também a coragem de Michael Moore, em como seu filme é um manifesto furioso contra a política americana, contra a visão da nação perfeita e do “American way of life”, e em como seu filme constrói sua visão que os Estados Unidos são a nação do medo.

Quem pensar que Michael Moore é um sensacionalista mais preocupado com o sucesso de seu filme do que em realmente o tema do documentário em si irá se surpreender com o filme. Algumas cenas mostram sem nenhuma dúvida o tom humano que Moore confere ao seu documentário. Não há por exemplo câmeras escondidas. É marcante uma cena em Flint quando uma professora dá as costas para a câmera quando não consegue falar sobre o incidente, e como a câmera se mantém respeitosamente, não querendo pegar a lágrima da mulher em close, e como Moore se aproxima da mulher, dando as costas à câmera e ficando ao lado dela. Quando a van de um executivo arranca, comprovando a negativo do empresário em responder a Moore, sua cara de desolação mostra nitidamente seu envolvimento. Outra cena de inegável impacto é quando Moore pede que Charlton Heston olhe para a foto da criança morta em Flint, e a deixa carinhosamente na sacada da casa do ator.

Agressivo, polêmico e incisivo como poderia se esperar de qualquer filme de Moore, Tiros em Columbine é também um filme sentido, um trabalho pessoal, e nunca somente mais um produto sensacionalista disposto a tornar o cineasta uma celebridade mais do que realmente colocar questões sobre seu tema. Apesar de manipulador na forma como conduz o documentário, essa manipulação se contrapõe com a paixão com que abraça seus argumentos e pela indignação, o que mais que justificam seus possível erros. Investindo raivosamente contra a mídia, o que torna sua posição como cinema num viés particularmente político, e ainda mais particularmente corajosa, Tiros em Columbine é um filme apaixonado, vigoroso e urgente. Pontos mais que suficientes para torná-lo um filme recomendável.


Fonte: http://www.geocities.com/Hollywood/Agency/8041/frio02/columbin.html

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