terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Humano, demasiado humano

Por Aluísio Gomes Jr.*

Escolhas. Isso é o que nos faz seres humanos: tomamos decisões. Um cachorro não escolhe, apenas segue seus instintos ou comandos anteriormente ensinados. Stanley Kubrick gostava de colocar seus personagens em situações de estresse, onde raciocinar por conta própria fosse quase impossível. Seja treinamento de guerra (Nascido para Matar), nos confins do universo (2001 – Uma Odisséia no espaço) ou lutando contra as próprias perversões (Lolita).

Em Laranja Mecânica, Kubrick leva essa tendência da sua obra ao extremo. O personagem principal do filme, Alex, não quase perde a sua capacidade cognitiva, ele simplesmente não possui nenhuma em determinado momento da película. Antes da transformação de Alex em um cachorrinho de estimação, lá pela segunda metade do filme, nós somos apresentados ao mundo em que ele vive. Uma Londres futurista, com raríssimas oportunidades de empregos para os mais novos e pais que não se comunicam com os filhos. Alex é um adolescente comum dessa sociedade: ele gosta de Beethoven, beber com os amigos no Korova Milkbar e, claro, praticar a “boa e velha ultraviolência.” Essa última prática, levará Alex à prisão onde é submetido a um tratamento experimental (em algumas das cenas mais enervantes da história do cinema) que retirá o componente “agressivo” da sua personalidade.

A partir disso Kubrick constrói uma teia sobre a qual ele pode se divertir com discussões filosóficas sobre Behaviorismo, críticas a sistemas totalitários direitistas, intelectuais de esquerda e principalmente questões quanto à condição humana. O diretor consegue colocar toda essa discussão em um filme acidamente divertido. Não que Laranja Mecânica seja fácil, mas você não vai precisar pensar no significado de um monólito. Boa parte desse humor negro inerente ao filme se deve a atuação do ator principal, Malcom McDowell. Ele encarnou tão bem o personagem que nunca mais conseguiu outro papel decente (Ok, tem Calígula, mas esse não é exatamente decente).

É difícil dizer se Laranja Mecânica é o melhor filme da extensa carreira de Stanley Kubrick, mas é certamente o que apresenta mais elementos comuns ao diretor: futuro, violência, filosofia, sexo, música erudita. Kubrick morreu há dez anos e é difícil imaginar se um dia vai haver algum cineasta mais completo. Quantos diretores teriam a capacidade de trafegar tão facilmente entre ficção científica (o já citado 2001), humor (Dr. Fantástico), épico (Barry Lindon), romances shakesperianos (De Olhos Bem Fechados).

Apesar do personagem mais marcante da sua obra ser uma máquina (Hal 9000), Kubrick sempre apresentou nas telas os sentimentos humanos que nós tentamos colocar debaixo do tapete. O Cineclube AZouganda concorda com você, Stanley, por isso não varremos nada para debaixo do tapete, nós colocamos tudo na tela do cinema.

*Jornalista Pernambucano e Coordenador do Cineclube AZouganda


STANLEY KUBRICK: http://www.terra.com.br/cinema/favoritos/kubrick.htm
LARANJA MECÂNICA E BEHAVIORISMO: http://recantodasletras.uol.com.br/trabalhosacademicos/1407579
BEHAVIORISMO: http://www.cfh.ufsc.br/~wfil/matos.htm

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