segunda-feira, 22 de janeiro de 2007

A ESTRÉIA

A difícil estréia do Cineclube AZouganda foi com Má Educação do cineasta espanhol Pedro Almodóvar. Quando o projeto do cine já sabia andar e falar, ele foi batizado. É difícil e lindo trabalhar na vanguarda. Foi lindo e fácil estrear o AZ em Nazaré da Mata.
Tentamos fazer uma pré-estréia como uma exibição-piloto, já que o projeto ainda não havia sido aprovado. O filme não passou completo, paramos no meio, enfrentamos chuva forte, vento, a tela branca de projeção quase se desarmou em alguns momentos, o data-show teve que ser agasalhado. A Universidade de Pernambuco entrava em greve. Neste dia, na FFPNM (Faculdade de Formação de Professores de Nazaré da Mata) havia no lado de lá, no pátio do Espaço Paulo Freire, uma balbúrdia que se ouvia do lado de cá, do abrigo da antiga cantina onde arrumamos o equipamento todo para projeção. Entre um gemido e outro de Gael, gritos, aplausos, vozes irritadas que pareciam ranger de uma maneira insuportável sendo amplificadas por um caixa de som péssimo. Uma verdadeira revolução debaixo de chuva e uma greve histórica no dia da nossa estréia. O flerte não aconteceu com Almodóvar.
Reapresentamos Má Educação para uma audiência que definitivamente não estava preparada para ver as cenas que viu (ou não viu). Esta foi a nossa estréia “oficial”. Não choveu, o filme passou completo, a “greve” já havia acabado. Mulheres que cursam Pedagogia eram a maioria dos espectadores. Nos momentos de cenas “mais ousadas”, naturalmente as de sexo homossexual, quase todas senhoras desviaram os olhos do filme. Ouvi algumas dizendo que aquilo era uma pouca vergonha, que aquilo não era cinema. Uma senhora se retirou xingando aquela putaria e, com muita cautela, só voltou depois de uma meia hora. Vi uma mãe agarrada à filhinha que devia ter sete, oito anos, de maneira que a menina ficasse de costas para as imagens. Nos créditos finais, os aplausos soaram confusos, letárgicos talvez. Existe, então, um evento ousado, uma estréia delicada ou absurdamente provocante. A coisa não aconteceu, de todo, de caso pensado. Penso, agora, num notável desapontamento de boa parte do público, numa atitude anárquica de eletrochoque tomada pela coordenação do AZ, numa ingenuidade romântica de alguém, numa jovem que ria muito e, por isso, me fez ver a óbvia comédia de Almodóvar, em descrédito, em revolução.

Depois dessas estréias, pude confirmar alguns sotaques que me povoavam e, de cara, pareciam absurdas desideologizações ou burrice mesmo. Carregava indecisões e mudez diante desta arte nova, apesar de toda a luta verdadeira para a aprovação do projeto do AZ. As estréias me revelaram os filmes. Hoje sei que cineclube não é cineclube. Hoje sei que cineclube não é cinema.

Artur Rogério, coordenação do AZ, estudante de História da FFPNM - UPE.

2 comentários:

Dhalida disse...

Olá, sou uma das professoras da Escola Dom Carlos Coelho e estou aqui para parabenizar vocês com a iniciativa de mostrar e trazer o cinema mais perto da população e para os estudantes de escolas públicas.

Já sabia da exitência do cineclube, mas nunca fui ver, pois sempre achei que fosse para os universitários daí de Nazaré.

Notei um pequeno problema devido ao som, a caixa de som da escola não é das melhores e o audio ficou um tanto ruim.... Todavia, vocês pederiam ter mostrado mais a cidade, pois Nazaré não é só aquilo... sou ex-moradora da cidade...

A população ainda não está acostumada a certas novidades e estranham um pouco...

Nada melhor que dar acessibilidade as pessoas que não são acostumadas a certas coisas, e boa também porque universitários estão fazendo algo que jamais nenhum político da cidade fez... Bom que a prefeitura apoiou, o projeto de voces... rssrrsrsrsrsrs.

Sem mais,
Até a próxima !

Dhalida disse...
Este comentário foi removido pelo autor.