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“É tudo marginal, entendeu bem?!” É com irreverência, deboche e ácida ironia que Paulo César Peréio define o atual cinema brasileiro. Às vésperas de completar 69 anos, o ator garante que o “sistema” engoliu a chamada “vanguarda da arte”. “O cinema marginal não existe mais. Todo o cinema brasileiro é marginal, estamos à margem do mundial”, dispara.
Peréio esbanja críticas às recentes produções que adotam a linguagem televisiva. “Pegam atores de novela e fazem um ‘filmeco’, com toda aquela linguagem televisiva de merda”, diz o ator que estreou na tela grande em 1964 com Os fuzis, filme de Ruy Guerra. A partir daí, tornou-se ícone do cinema marginal e da pornochanchada, correntes iniciadas na década de 1960, que retratavam a situação cultural e social do país de forma irreverente e debochada. Para ele, a televisão é o reduto do ‘sim’. “O único lugar que sobrou para o ‘não’ foi o teatro que, de tão miserável, pode ser seu próprio dono. Por isso não morreu.”
E é no palco que Peréio comemora seus 50 anos de carreira artística. Ao lado do filho, João Velho, estreia, em outubro, uma adaptação livre da peça Escute, Zé-Ninguém!, do austríaco Wilhelm Reich (1897-1957), que aqui leva o nome de Escuta, Zé Mané.
A estratégia de exportação dos blockbusters nacionais também é criticada pelo ator. “Temos paixão por tudo o que é estrangeiro. Pô, pensa um pouco! O povo é colonizado, xenófilo e espera-se que o cinema brasileiro vá fazer frente ao americano ou europeu? Deus do céu! Tem cinco distribuidoras americanas no Brasil que dominam o mercado, para uma distribuidora nacional.”
Espelho dos seus próprios personagens e proprietário de um estiloso óculos à moda James Dean, Peréio oscila entre a ficção e a realidade. “Não sei exatamente a fronteira entre um e outro. Por isso amo o jornalismo e adoro documentários.” ©
Fonte: http://www2.livrariacultura.com.br/culturanews
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