sexta-feira, 15 de maio de 2009

Sobre o filme "Diários de Motocicleta"

Exibição do Cineclube AZouganda na II Semana de Letras da FFPNM - 11 de maio de 2009.


Renúncia da Autoria

Por DANIEL SCHENKER WAJNBERG


Já no título, Diários De Motocicleta surge inserido no universo de Walter Salles, um diretor que valoriza elementos afetivos – cartas, diários, motocicletas antigas. Mas, apesar disto, o filme resulta impessoal. Nada que deverá prejudicar sua repercussão dentro ou fora do Brasil. É aí que está o problema. Ao que parece, Walter Salles não quis correr riscos. Assina um trabalho que prima pela correção, sustentado por duas boas atuações (de Gael García Bernal e Rodrigo de la Serna) e por um timing ajustado.

Diante de tantos acertos – e de outros, como a fotografia menos estilizada do que o habitual e a busca por um desenho emocional menos derramado, que representam ganhos em relação aos trabalhos anteriores do diretor –, Diários De Motocicleta bate na tela como um filme perfeitamente gostável. Destituído, porém, do frescor da experimentação, essencial em se tratando de um projeto sobre amigos que saíram palmilhando um vasto território sem terem a exata noção do que iriam encontrar pela frente. É como se o formato convencional confinasse um filme que aborda justamente o passar por experiências.

Em Abril Despedaçado , apesar de todas as restrições externadas após seu lançamento, Walter Salles apresentava uma operação com um interessante nível de ousadia. Em Diários De Moticicleta , sobressai o esforço para não errar, a modéstia criativa. Há diversas cenas que poderiam ser perfeitamente encontradas em muitos outros filmes (em especial, no que diz respeito à saída de Buenos Aires). Preocupado em frisar excessivamente que não quis abordar o mito Che e sim “duas pessoas que se encontraram num determinado momento e percorreram um trecho juntas” (como se não tivesse este direito...), o cineasta não alça vôo. E, em que pese todo o esforço em desglamourizar, o apego às convenções acaba levando a uma típica seqüência de louvação: a que mostra Ernesto Guevara atravessando um perigoso rio a nado, de noite, com torcidas, suspiros e aplausos nas margens.

Convenções que também aparecem nas construções esquemáticas de Ernesto e Granado, apresentados em sistema de oposição entre a “maldita honestidade” do primeiro e a constante negociação com o mundo do segundo. Em outros momentos, os diálogos soam dispensáveis e/ou a câmera apenas reitera o que já foi dito. Restam raros instantes de silêncio na contramão da necessidade de evidenciar tudo e pelo menos um diálogo no qual fica patente a importância de lutar mesmo diante da constatação (ou talvez por causa dela) de que “a vida é um calvário”.

Crítica adaptada do site Críticos.com: http://criticos.com.br/new/artigos/critica_interna.asp?secoes=&artigo=646

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