quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Baile Perfumado

Primeira exibição do semestre!



Cinema Pernambucano: a gente se vê por aqui

Por Aluísio Gomes Jr.*


Peço licença à maior emissora do país para usar o slogan dela como título dessa resenha. Porque em 1996, quando o filme Baile Perfumado de Lírio Ferreira e Paulo Caldas foi lançado, a gente não se via nem por lá e nem por aqui entre nós.
Nessa época, Recife fervia ao som do movimento manguebeat. Mundo Livre e Chico Science & Nação Zumbi eram sucesso de crítica, aqui na terrinha e fora do país, o que inflava o orgulho do pernambucano. Baile Perfumado acompanhava esse movimento em (bela) imagem e som. A panorâmica do interior do estado tendo Sangue de Bairro da Nação Zumbi como trilha sonora é antológica. Combinação perfeita de música, ritmo de edição e fotografia. Na inocência dos meus 14 anos, me perguntava como poderia haver tanta água em uma terra dita tão seca.
Lírio Ferreira e Paulo Caldas mostraram com maestria essa terra seca. Partiram da tradição brasileira de filmes de temática do cangaço, O Cangaceiro de Lima Barreto sendo o principal exemplo, para uma modernização do estilo. Apesar de ser uma temática bastante abordada na cinematografia nacional, o sertão em Baile Perfumado possue uma nova visão, um olhar de um estrangeiro. Isso foi possível, pois os diretores retratam a história a partir da perspectiva do mascate libanês Benjamin Abrahão, o único a conseguir captar imagens de Virgulino Ferreira, o Lampião. O filme ainda conta com o uso inteligente dessas imagens durante a projeção. Se não fossem as filmagens de Abrahão é provável que Lampião figurasse na mente do público apenas como um mito, um Robin Hood do sertão.
A jornada de Benjamin Abrahão em busca do bando de cangaceiros mais famoso da nossa história pode ser vista como uma metáfora para a procura de uma identidade pernambucana na última década do século passado. Como o libanês, o filme Baile Perfumado comete alguns exageros, uma ânsia desmedida em passar aquilo que quer. Algo natural em um movimento que buscava uma transformação. Em nome disso havia uma condescendência e um apelo para uma "pernambucanidade", conceito um tanto incompreensível até hoje.
Graças à procura desta identidade, no entanto, abriu-se espaço para as artes em Pernambuco serem vistas cada vez mais pelos pernambucanos. A cada ano mais filmes são produzidos no estado e há mais festivais e cineclubes para exibi-los. Cineclubes que acabam de se reunir em torno de uma federação estadual. Até a maior emissora do país, abriu um espaço para os curtas-metragens estaduais (a meia-noite do domingo) para a gente se ver por lá. Ou nos vemos por Nazaré da Mata, Triunfo ou Coque.

* Jornalista pernambucano e colaborador do Cineclube AZouganda
Saiba mais:
Análise Fílmica de Baile Perfumado: http://www.mnemocine.com.br/cinema/crit/sarahbaile.htm
Lampião, uma viagem pelo cangaço: http://www2.uol.com.br/lampiao/
Entrevista: http://www.di.ufpe.br/~mundi/numero1/artes/entrevista.html
Direção: Paulo Caldas e Lírio Ferreira
Ano/Origem: 1996/Brasil
Gênero: Drama
Duração: 93 min

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