terça-feira, 28 de julho de 2009

O Arrebatador Cinema da Índia


Por Maurício Caleiro

(Fotos retiradas daqui, dali e dacolá)


Ao contrário do que talvez se pudesse esperar, a abordagem – estereotipada mas pretensamente respeitosa – da cultura indiana pelo produto midíático de maior público no país - a "novela das oito" - não teve como um de seus efeitos o crescimento substancial da curiosidade a respeito da principal referência estética de Caminho das Índias: a produção audiovisual indiana, destacadamente seu cinema.

No Ocidente, a imagem do cinema indiano esteve por muito tempo associada, sobretudo, à figura do diretor Satyajit Ray (1921-1992), que em 1956 venceria a Palma de Ouro em Cannes com A Canção da Estrada (Pather Panchali, 1955) – primeiro filme da “Trilogia de Apu”, sobre a qual o blog Cine-Filia traz detalhadas informações. Embora seja contemporâneo de outros grandes diretores da chamada “Era de Ouro” do cinema indiano – como Raj Kapoor, Mehboop Khan e Guru Dutt, o “Bergman indiano” -, Ray foi o mais famoso internacionalmente por razões que dizem respeito mais à relação entre festivais de cinema e mercado do que à eventual superioridade de seu inegável e abundante talento (processo semelhante - mas menos assimétrico - ocorreria no Japão, com a fama internacional de Akira Kurosawa em relação às de Kenji Mizoguchi e Yasujiro Ozu).

Não deixa de ser uma lástima que tais dinâmicas de reconhecimento público ainda hoje vicejem, pois não são poucos os pesquisadores de cinema – entre os quais me incluo – que consideram Guru Dutt (foto) um dos mestres da sétima arte em todos os tempos e achem simplesmente inacreditável que ele seja, no Ocidente, não apenas desconhecido do grande público mas negligenciado até mesmo por cinéfilos e estudiosos de cinema.

A partir dos anos 80, graças à proliferação dos festivais de cinema, à consolidação das comunidades indianas no exterior e ao incremento das facilidades de importação e circulação de filmes, a imagem do cinema indiano passa a ser mais associada aos filmes massivamente produzidos por “Bollywood” (o B vem de Bombaim, atual Mumbaim, que é, há décadas, o único centro produtor de cinema no mundo a superar Hollywood, ente outros quesitos, em número de produções/ano).

Produtos do ramo mais bem-sucedido do cinema indiano em termos comerciais, os filmes abrigados sob o rótulo "Bolywood", no mais das vezes produções de grande orçamento, obedecem a um sistema industrial altamente profissionalizado. Dos roteiristas aos técnicos no estúdio, da figurinista ao diretor de arte responsável pelos multicoloridos padrões cromáticos, dos coreógrafos aos cantores que dublam os astros nos diversos números musicais que ornam muitos dos filmes, todo o sistema produtivo trabalha em série e de modo praticamente ininterrupto, a realização de um filme sucedendo a de outro, num modelo de produção menos atomizado e de ritmo mais intenso do que o praticado atualmente em Hollywood.

A cereja do bolo desse esquema é, naturalmente, o star-system indiano, já que tradicionalmente no país, de forma ainda mais intensa do que nos Estados Unidos, é o elenco – sobretudo o protagonista masculino – o principal chamariz de público para os filmes. A atual grande estrela das telas indianas é o ator Shah Rukh Khan (ao centro, na foto que encima o texto), 43 anos, que sucedeu o grande ídolo dos anos 70/80 Amitabh Bachchan. Essa mudança significou uma revolução nos padrões estilísticos e temáticos concernentes ao protagonista – tema que debateremos futuramente em outro post.

Diversidade e riqueza cultural
Mas o cinema indiano vai muito além dos mestres de seu período clássico e e da exuberância multicolorida de “Bollywood”: a Índia contra com três grandes centros produtores – Mumbaim, Calcutá e Madras –, que lançam, anualmente, uma média de quase mil filmes. A maioria é falada em Hindi, mas há uma considerável produção em Tamil, Telugu e em Malayalam, e algumas dezenas de títulos falados em Bengali, Kannada, Gurajati e em Marathi. Na verdade, quase todos os 21 idiomas/dialetos falados no país são contemplados com a produção de ao menos um filme por ano.

Cerca de trinta milhões de indianos vão ao cinema diariamente (aproximadamente 3% da população do país) e, na presente década, mais de 9o% das receitas de bilheteria, em média, disseram respeito à produção nacional. Além de hegemônico internamente, o cinema indiano tem mercado cativo no sudeste asiático, no Oriente Médio e em boa parte da África. Durante décadas objeto de culto restrito às comunidades indianas no exterior, vive hoje um processo de popularização no Ocidente – nos EUA, Reino Unido e França destacadamente.

A presença marcante da cultura popular indiana – milenar ou contemporânea -, combinada ao volume de produção e à influência de distintos modelos representacionais, gera um cinema extremamente rico em sua diversidade, com uma forte tradição em termos de documentário, duas grandes escolas ficcionais, características regionais distintas e crescente experimentalismo. Vale a pena conhecer melhor essa filmografia vibrante, que envolve o espectador, seja através do apelo popular produzido pela mistura de gêneros, canções, cores e sensualidade de sua produção mainstream (estas últimas evidenciadas na foto da atriz Kajol, logo acima); pela sinceridade e agudeza dos seus filmes de “temática social”; ou pelo rigor e personalidade de seu “cinema de autor” (aqui, em inglês, uma ótima seleção de títulos para quem deseja se iniciar no cinema indiano, organizada por dois especialistas no tema).

Infelizmente, ainda viceja no Brasil, mesmo em setores soi disant cultos e intelectualizados, uma espécie de versão debochada do Orientalismo de que nos fala Edward Said, traduzida na tendência a apregoar o multiculturalismo da boca pra fora mas continuar torcendo o nariz, ignorando ou folclorizando o que vem do Oriente, sobretudo se se trata de algo popular. Assim, com a exceção de uns poucos iniciados, os cinéfilos brasileiros seguem privados do contato sistemático com uma das mais ricas, originais e diversificadas cinematografias do globo. É mesmo uma pena, sobretudo se pensarmos o quanto o próprio cinema brasileiro teria a ganhar com esse contato.


Fonte: http://cinemaeoutrasartes.blogspot.com

terça-feira, 21 de julho de 2009

Inscrições abertas para o Janela Crítica-2009‏

Começam nesta segunda-feira (20.07.2009) as inscrições para a Janela Crítica, oficina do festival de Janela Internacional de Cinema do Recife, que acontece entre 17 e 29 de outubro de 2009. A oficina busca incentivar o pensamento crítico de jovens universitários e/ou cinéfilos do estado de Pernambuco, a partir de encontros com o jornalista e crítico de cinema Luiz Joaquim, que introduzirá idéias e conceitos relativos ao universo da critica cinematográfica.

Para participar da seleção, os candidatos precisam enviar e-mail para janelacritica@janeladecinema.com.br com uma crítica de 25 linhas sobre um filme da sua escolha e seus dados pessoais como nome, idade, cidade, telefone de contato, universidade (curso e periodização), conhecimento de línguas estrangeiras, endereço do blog ou site (caso possua um). O prazo para inscrição vai até 20 de setembro.

Serão selecionados sete jovens para participar da iniciativa. Além dos encontros da oficina, os jovens selecionados ganham passe livre nas sessões de cinema do festival para produzir críticas que serão veiculadas no site do evento diariamente. Ao final do festival, os jovens formam o júri especial Janela Crítica, que elege os melhores nas categorias de curtas nacionais e internacionais.

segunda-feira, 20 de julho de 2009

O Cinema em Órbita

Quem venceu a corrida espacial foi Stanley Kubrick, levando o homem à Lua antes dos EUA e da URSS

Kleber Mendonça Filho


Historicamente, a chegada do homem à Lua foi o resultado da Guerra Fria, quando americanos e soviéticos entraram na chamada ‘corrida espacial’, já nos anos 50. Em termos práticos, deu-se uma espécie de olimpíada da ciência entre duas escolas rivais, e os americanos, que chamavam seus homens de astronautas, ganharam a prova final, a Lua, dos soviéticos, que chamavam seus heróis de cosmonautas. No entanto, foi o cinema, de certa forma, que venceu a corrida, pois em 20 de julho de 1969, 2001: uma odisseia no espaço, de Stanley Kubrick, já estava em cartaz em todo o mundo com praticamente um ano de vantagem.

Dar algum tipo de vitória ao cinema, considerando o incrível feito técnico e político de Washington e da agência espacial americana, a Nasa, e todo o investimento dos melhores cérebros do poderio comunista, não é exatamente um exagero. O cinema, como reflexo do mundo e do ser humano, nos oferece um universo paralelo que muito tem de verdade, especialmente no âmbito da chamada ‘ficção científica’, um termo maltratado pela cultura pop, em geral.

A ficção científica indica, literalmente, a hipótese desenvolvida em cima de uma base factual, científica. Vale observar que muito do que se produz e que se consome no cinema é rotulado sem grandes cuidados de “ficção científica” quando, na verdade, melhor seria o termo “fantasia”. Ou seja, 2001: uma odisseia no espaço seria ficção científica, enquanto Guerra nas estrelas (um exemplo fácil), uma ‘fantasia’, ou “fantasia espacial”.

Uma suposta vitória do filme de Stanley Kubrick, que foi lançado em abril de 1968, pode ser explicada. A Lua sempre teve participações especiais nas imagens do cinema, ao longo do último século, seja pura e simplesmente pela sua carga mística e estética, ou como o satélite natural da Terra.

No primeiro caso, a Lua pode ser elemento catalisador do romance, da sorte e do azar, ou da sensualidade, da fecundidade das mulheres, das próprias mulheres. São elementos usados com frequência constante no cinema, do filme de lobisomem (Um lobisomem americano em Londres talvez seja o melhor) a uma cena simples onde James Stewart promete a Lua a Donna Reed em A felicidade não se compra.

A Lua como objetivo de conquista do homem, no entanto, é algo menos frequente, e constitui uma série de exemplos curiosos sobre como o cinema reflete as ambições do homem e de suas sociedades, algo que atingiria uma espécie de clímax com o filme de Kubrick, nos anos 60, às véspera da real conquista da Lua.

É uma ideia tão presente no ser humano e no cinema que lá está ela na primeiríssima vinheta da MTV, levada ao ar em 1982, num filme recente e próximo como o pernambucano Muro (2008), de Tião, ou no cinema ancestral de Georges Méliès, que conquistou a Lua já em 1902, quando fez Le Voyage dans la lune.

Nesse filme incrível de 21 minutos (numa época em que filmes duravam não mais do que dois minutos), a nave espacial com a forma de uma bala grande é disparada de um canhão em Paris. A Lua tem os traços reconhecíveis de um rosto humano que acabara de ser atingido por uma polpuda torta de marshmallow. E esse rosto leva a nave bem no olho direito, a versão de Méliès para uma hipotética aterrissagem lunar.

Na Lua, existiriam habitantes, os selenitas, que nos passam a suspeita através de sua aparência de que Méliès os imaginava como nativos africanos de alguma terra distante, claro reflexo da política colonialista (e racista) dos europeus na virada do século 19 para o 20. Esses nativos lunares também têm uma particularidade: eles explodem e viram uma nuvem de fumaça quando atacados. A base de Meliès para o filme foi os escritos de dois autores marcantes que enxergavam o jeito de como as coisas viriam a ser no futuro: o francês Jules Verne e o inglês HG Wells. Escreveram certo sobre os avanços do homem pelas linhas tortas da fantasia.

Uma outra história intrigante é a do filme alemão de ficção científica Die frau im mond (A mulher na Lua, 1928), de Fritz Lang. Não é um bom Fritz Lang, mas a sua atenção para o detalhe (seu filme anterior foi o clássico Metropolis) envolvia mostrar em detalhes uma plataforma de lançamento do foguete que não apenas assustou o serviço de inteligência britânico, como levou os nazistas a destruir a maquete usada no filme. Ou seja, um protocaso de armas de destruição em massa que se repete na história humana. Realista demais, o filme terminou entregando segredos dos foguetes V1 e V2 que uma década depois aterrorizariam Londres nas campanhas de bombardeio pelos nazistas.


FONTE:
Jornal do Commercio - PE 19/07/2009

segunda-feira, 13 de julho de 2009

Tarantino e a pressão de Hollywood

Divulgação Tarantino, que mudou "Bastardos Inglórios" após Cannes

Por Leonardo Cruz

Mike Fleming, blogueiro da “Variety”, publicou nesta quinta uma boa entrevista com Quentin Tarantino sobre a versão final de “Bastardos Inglórios”, o novo longa do diretor de “À Prova de Morte”, “Kill Bill” e “Pulp Fiction”. Como é uma entrevista da “Variety”, a discussão gira em torno mais da pressão do lançamento comercial e da expectativa de retorno financeiro por parte dos estúdios (Weinstein e Universal). E as respostas do cineasta são um interessante exemplo de como as coisas funcionam em Hollywood.

A seguir, os trechos mais interessantes da conversa, na tradução mambembe deste blogueiro. Para ler o original, em inglês, clique aqui. Para quem é fã de Tarantino, o fim de 2009 promete. "Bastardos Inglórios" deve estrear em 23 de outubro. E, se não for adiado pela milésima vez, "À Prova de Morte", de 2007, entrará em cartaz em 13 de novembro.

*

Sobre a suposta ordem para cortar o filme após a estreia no Festival de Cannes
Ouvi esses rumores de que o estúdio teria me mandado cortar 40 minutos. É tudo mentira. O filme está um minuto mais longo em relação a Cannes. Tinha 2h28, sem créditos finais, e agora tem 2h29. Ou 2h32, com os créditos.

Fico ofendido com a ideia de que esses caras [os produtores] ficariam mandando em mim. Ao contrário, não tenho do que reclamar. Você não tem que fazer nada sob pressão. É o seu filme, é você quem tem que viver com ele e sabe que não pode fazer julgamentos precipitados porque se arrependerá depois.

Mas você fica mais inclinado a ouvir, porque não o estão forçando a nada. Harvey Weinstein [dono do estúdio] é um cara legal. Foi ótimo trabalhar com David Linde [da Universal]. Eles têm coisas válidas a dizer. Com algumas eu concordei. Com outras, não. Sempre tentei as sugestões deles, porque eles têm muito dinheiro investido. Eles não estavam na sala [de montagem] quando tentei, e em metade das vezes eles estavam errados. Mas, algumas vezes, me peguei dizendo: “Diabos, Harvey está certo. É melhor deste jeito.”

Sobre uma eventual “prequela” de “Bastardos Inglórios”
Já escrevi metade [do roteiro]. Tenho que terminá-lo, reunir os Bastardos de novo e inserir todo um outro grupo de personagens. Durante as filmagens, Brad Pitt e Eli Roth ficavam falando: “Prequela, pequela”. Brad dizia: “Vamos convencê-lo a fazer uma prequela”. Os caras adoram a ideia. Eu tenho a história. Mas [no passado] eu ia fazer todas aquelas prequelas de “Kill Bill”, em animação. E acabei não fazendo nenhuma delas.

Sobre a pressão dos estúdios por um sucesso comercial
É, os caras estão ansiosos, e eu sei de onde isso vem. Mas um filme é um filme. Eles leram o roteiro, sabiam no que estavam se enfiando. De tempos em tempos, nós conversávamos e eu dizia: “Ouço o que vocês dizem, mas não vou fazer o filme em nada diferente do que escrevi”. Pode parecer estranho quando digo que acrescentei um minuto, mas você pode acrescentar pequenas coisas e melhorar o ritmo. E nós estávamos muito atentos a manter um bom ritmo. Para acrescentar uma cena, eu reduzi pequenos trechos de algumas cenas. Conversava com os Weinstein e a Universal, e eles diziam: “Esta sequência está um pouco longa”. Eu respondia que o máximo que podia fazer era cortar uma linha aqui, outra ali. E eles concordavam. Aí você precisa achar essa linha. É cirurgia cosmética. Harvey queria que eu acrescentasse mais música, pediu para que eu voltasse à minha coleção de discos e escolhesse mais algumas músicas. Achei quatro. E uma delas é a música-tema do filme “Os Mercenários”, de Jack Cardiff, que eu sempre quis usar.

Sobre o star system
Tem havido escolhas seletivas de evidências para argumentar seu o star system ainda é confiável ou não. Se você se refere àquele filme do jornal com o Russel Crowe [“Intrigas de Estado”], que eu não vi, talvez o star system não tenha funcionado para aquele filme. Brad teve sucesso com “Benjamin Button” e acho que ele foi uma grande razão [desse sucesso]. No passado, eu ouvia sugestões deste ou daquele ator e perguntava: “Por que você quer estas pessoas? Eles realmente levam gente ao cinema?” Olhava os filmes deles, e a resposta era não. Aprendi que a questão era menos sobre público e mais sobre marketing. Este cara é famoso, então podemos levá-lo no Leno, no Conan, no Letterman, conseguir uma capa de uma revista. Eu escolho o elenco que funciona melhor para o filme. Rosario Dawson era a garota mais famosa que usei em “À Prova de Morte”, e ela foi a todos os talk shows. Mas ela também era uma das melhores do filme. Ela é uma grande atriz, tem toneladas de carisma. Não vou contratar ninguém apenas para o pôster. E a integridade dos meus filmes fala por si.

Sobre o impacto de Brad Pitt no desempenho comercial de “Bastardos Inglórios”
Sempre confiei no meu nome na maior parte do tempo. Minha esperança agora é que eu vou atrair os meus fãs e ele vai atrair os dele. No exterior, a admiração por Brad é intensa, quase louca, mas por mim também. Espero que, conosco juntos, haja um empate. Mas posso dizer sinceramente que, se Pitt não fosse um astro e eu o tivesse encontrado na seleção de elenco, teria feito lobby para que o papel fosse dele.

sexta-feira, 3 de julho de 2009

Entrevista - Matheus Nachtergaele


















ENTREVISTA - Matheus Nachtergaele

Eu sou todos os personagens - diz Nachtergaele


LUIZ JOAQUIM


Na noite de terça-feira, o ator Matheus Nachtergaele veio ao Recife e esteve no Cinema da Fundação Joaquim Nabuco para um bate-papo com o público a respeito de "A Festa da Menina Morta". O longa-metragem, em cartaz naquela sala, é o fruto da primeira incursão do artista como diretor de cinema. Em entrevista coletiva, Matheus falou sobre o envolvimento, desde 1999 neste que é possivelmente seu projeto mais pessoal.

Lançado comercialmente no país há duas semanas, o filme teve sua primeira exibição a mais de um ano, na mostra Un Certain Regard, em Cannes, junto a outros 19 filmes escolhidos para aquela mostra. "Achei que com a seleção de Cannes, teríamos distribuidor garantido no Brasil, mas não foi bem assim, fomos tachados como um filme 'difícil'", recorda Matheus. De qualquer forma, Cannes foi positivo sim. A parir de lá, "A Festa..." percorreu 45 festivais de cinema (entre o Brasil e o exterior), incluído aí lugares tão distintos quanto a Transilvânia, Uruguai, Los Angeles e Cuba, entre outros.

Perguntamos se, após uma saraivada de perguntas sobre seu trabalho, tanto de jornalistas quanto do público comum (por ocasião do lançamento), Matheus percebia perspectivas diferentes de leituras entre o olho do especialista e o olho do leigo. "Até aqui, o maior volume de pessoas que viram o filme era o de gente interessada em filme autoral, que é o público de festivais, mas o público menos especializado se emociona com a paisagem brasileira e humana que está lá. Penso que uma certa parte do publico tenha se perturbado com a coragem que o filme vai para o tema que mostra. E dessa mesma forma foi com a crítica. Mas esta, olhando para um filme de estréia, procurando referências para localizá-lo. Comparam a Herzog, a Cláudio Assis, e até a Glauber, o que me chamou a atenção, apesar de também achar que há algo de barroco em 'Menina Morta' ", reflete.

Matheus parece receber tudo isso com muita tranquilidade. Sua segurança transparece em sua declaração a respeito do que resultou o filme. "Fiz o filme que queria. Na montagem, não fiz cortes por conta de receio com a temática forte. Cortamos o que realmente era gordura". Essa gordura, tinha cerca de 50 minutos além dos 110 em que resultou a versão que está nos cinemas hoje.

"Chegamos a exibir essa versão maior, com 2h40min, no festival 'Cine en Construcción' de San Sebastian, onde eles selecionam dez filmes ainda em desenvolvimento. A versão maior, que obedecia quase rigorosamente a cronologia do roteiro era generosa com o material filmado. Foi feita junto com Cao Guimarães, já a versão final com a pernambucana Karen Harlen", diz.

Sendo o ator talentoso que é, uma questão recorrente era se o diretor Matheus havia privilegiado os atores no processo de filmagem. "Costumávamos fazer um balé com a câmera de Lula Carvalho e os atores nos planos sequências, que era um desejo meu, uma vez que gosto disso como ator de cinema. Prefiro estar em cena por muito tempo. Dizer uma fala picotada por cortes é muito entediante para o ator". Há também um fator econômico aí, lembrou Matheus, pois para cada novo plano, se perdia tempo para montar a luz, e tempo é dinheiro em cinema. "Com planos mais longos, ganhávamos esse tempo".

Voltando um pouco para a pré-produção, Matheus comentou a escolha a cidade de Barcelos, na no alto Amazonas, como locação. "Inicialmente pensei em filmar em Minas Gerais, mas viajei a Amazonia e fiquei fascinado pela sua geografia física e humana, sem falar que aquele lugar é meio abandonado por todos nós, o cinema incluso. Entendi também que ali a história podia abranger além da idéia inicial que tinha para a seita "espírita-catolizante" que está na história, e que mostrar também a pajelança da Amazonia seria um jeito de abarcar o Brasil, respeitando a cultura indígena", adianta.

Sobre a participação de Hilton Lacerda, Matheus brinca dizendo que o roteirista pernambucano pegou um encrenca pela frente, pois o roteiro já existia numa versão bem definida. "Como ele é um autor, teve que encarar um projeto já com a coluna vertebral pronta, Mas ele fez uma coisa bonita, ficou com o roteiro por seis meses e ao voltar trouxe o personagem do Tadeu. Inicialmente Tadeu era um senhor, e vi que ele era um personagem do Hilton que negava a seita, percorrendo todo o filme. Mas eu não o aceitava porque todos os outros personagens tinham uma ligação sanguínea ou emotiva muito forte com Santinho, e o Tadeu não. Até que tive a idéia de fazer dele o irmão da menina morta, e aí Tadeu virou 'o' personagem, incorporando o oposto do que o Santinho representa no filme", explica.

PROJETOS

Apesar do entusiasmo com o resultado de "Menina Morta", Matheus, o ator, revela estar com saudades dos teatros. "A última vez que atuei no palco foi aqui no Recife, ha cerca de quatro anos para lançar o livro, 'Essa Febre que Não Passa'". A vida agitada entre o TV e o cinema - Matheus acaba de rodar o filme "O Bem Amado", interpretando ("com muito orgulho") Dirceu Borboleta - é a responsável por este afastamento.

O próximo projeto como diretor de cinema, em amadurecimento, foca a reserva indígena de Dourados, no Mato Grosso. "Não sou especialista no assunto, mas sou um curioso e admirador dos donos do Brasil, e também sinto uma tristeza em ver como tratamos a questão indígena no Brasil". Uma outra questão atiça a curiosidade do artista sobre aquela região, é o fato de lá residir o maior índice de suicídio per capita do mundo. O que faz esses índios cometerem tanto suicídio é algo que perturba Matheus, e que, inclusive, teve um parente próximo que tirou a própria vida.

A mais nova negociação de trabalho para Matheus como ator de cinema está em curso. Ele foi convidado para interpretar Zé do Caixão quando jovem no filme que Vitor Mafra está preparando, e que terá o próprio José Mojica Marins interpretando a si mais velho.


Fonte: http://www.cinemaescrito.com/

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Reunião - Cineclube AZouganda: 05/07/09

Domingo (05/07/09) haverá reunião Ordinária do Cineclube AZouganda na casa de Nando às 14h.

P.S.: A reunião é aberta a todos. Traga sua ideia!

A casa de Nando fica no bairro do Cabanga. Maiores informações: 8705-3346 (Nando) ou 9950-0166 (Amanda)



Cineclube AZouganda:

Blog: http://www.cineclubeazouganda.blogspot.com
Orkut: http://www.orkut.com.br/Main#Community.aspx?cmm=70383397
Fotolog: http://www.fotolog.com/cine_azouganda
Grupo de Discussão: http://br.groups.yahoo.com/group/cineclube_azouganda/
E-mail: cineclubeazouganda@yahoo.com.br

quarta-feira, 1 de julho de 2009

Cineclube AZouganda no programa Cinema 11

Pessoal,

a matéria sobre cineclubismo gravada ontem na TVU será veiculada na próxima sexta-feira, às 20h30, pelo Programa Cinema 11 / TV Universitária.

Estiveram presentes representantes dos cineclubes pernambucanos AZouganda (UPE), Dissenso (UFPE) e Revezes (Unicap).

Confiram:

Programa Cinema 11
TV Universitária
Sexta-feira (03/07) às 20h30
Reprise no Sábado (04/07) às 13h30